Para nosso segundo dia nas montanhas do Atlas tínhamos previsto uma longa caminhada: cerca de 14 Km/4 horas de subida até a passagem ao vale do lado. Depois do café da manhã, pegamos nossas câmaras e partimos.
Começamos nossa caminhada seguindo a estrada principal. Nos arredores de Imlil, além de turistas fazendo trilhas, haviam muitos transeuntes locais envolvidos nas suas tarefas do dia a dia. O cinza das casas fazia com que os tapetes multicolores das lojas se destacassem. Por um tempo, seguimos os passos de um grupo de adolescentes britânicos, mas deixamos eles se adiantarem para não atrapalhar a tranquilidade da nossa caminhada.
Pouco tempo depois, chegamos até um atalho – o leito de um rio seco que iria nos levar até o centro de um pequeno vilarejo. O caminho ficou mais difícil, mas também permitiu conhecer melhor a realidade do povo Berber. Era como se estivéssemos entre bastidores, observando suas vidas acontecerem ante nossos olhos. Achamos muito interessante como eles conseguiam construir suas casa nas ladeiras da montanha, em terraços artificiais. Cruzamos com diversos rebanhos de cabras e ficamos um pouco desorientados até achar de novo a estrada, agora em zigue–zague montanha arriba.
As montanhas nevadas se estendiam ao nosso redor. Logo estávamos em uma altitude mais elevada, o ar, a temperatura, o sol eram diferentes… Nossa trilha nos levaria de 1700m a 2400m sobre o nível do mar e começávamos a sentir. A paisagem também mudou, nada de plantações, nada de construções, somente a estrada, rochas, arbustos, pinhos e córregos. A caminhada ficou um pouco monótona. Os únicos destaques foram outro rebanho de cabras pastando e o grupo de adolescentes britânicos que retornava, vestidos para férias na praia e não para o inverno no Marrocos.
Após mais de duas horas de subida constante, chegamos ao passo entre os vales e uma vista majestosa: rodeados de neve, um vale verde com casas aqui e ali apareceu na nossa frente. Paramos para tomar um chá de menta num pequeno café, bem na beira da passagem. Um grupo de homens montados em burros chegou carregando as bagagens de alguns turistas. Sentar ao sol, no topo das montanhas e bebendo chá quente com Karla, foi um desses breves momentos perfeitos da vida quando você sente que tudo está como deveria estar.
Assim que começamos nossa caminhada de volta nuvens enormes desceram pela montanha na nossa frente, cobrindo o sol. A temperatura caiu subitamente e voltamos a Imlil bem mais rápido. Ao final era só descida. Nosso passeio tinha durado mais de 4 horas, 13 km e quase 700m de diferença em altitude.
Ao chegar ao Riad almoçamos: salada marroquina e um guisado de kafta (almôndegas) e legumes. Nos despedimos do manager agradecendo pelos dois dias prazerosos nas montanhas. Nosso motorista, Rachid, estava nos esperando para nos levar de volta a Marrakech por uma rota diferente para que conhecêssemos uma outra parte da região. Depois do povoado Asni, giramos á esquerda por colinas verdes até Amizmiz e depois até Takerkoust, ao lado de uma lagoa azul que abastece de água a cidade de Marrakech, parando aqui e ali para bater fotos. Chegamos a Marrakech ao anoitecer. Tínhamos trocado a paz das montanhas do Atlas pelas emoções da Cidade Vermelha.
[Texto de Òscar Buenafuente/Fotos de Karla Brunet]
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