Através da Lenara Verle, minha guru pra programas culturais em Berlim, fiquei sabendo dos tours organizados pela Berliner Unterwelten. É um associação dedicada a tours pela história subterrânea da cidade. O outono chegou e este é o último mês do “Tour 2 – Vom Flakturm zum Trümmerberg” antes da chegada do frio. Nos horários que eu podia fazer o tour, só tinha em alemão, então, convidei Lenara para me acompanhar pelo passeio nesta torre antiaérea. Afinal, meu alemão é razoável, mas o dela, ótimo. Vejam o relato de Lenara abaixo.
Acompanhei o Errante em uma tour por uma torre anti-aérea em ruínas no parque Humboldthain. A tour faz parte da programação da associação “Berlim Subterrâneo“. É uma associação independente que pesquisa bunkers, túneis, esgotos, redes de correio pneumáticos, e muitas outras estruturas subterrâneas associadas à história de Berlim. Eles contam com voluntários que ajudam a escavar, limpar e reabilitar lugares em sua maioria abandonados, para convertê-los em pequenos museus e oferecer visitas guiadas.
A visita que fizemos foi à última remanescente das três imensas torres de defesa anti-aérea construídas na cidade durante a segunda guerra mundial. Após o fim da guerra, os aliados levaram anos até finalmente conseguir demoli-las, depois de muitas tentativas e muitas toneladas de dinamite. A torre de Humboldhain porém foi apenas parcialmente demolida pois ficava muito próxima dos trilhos do trem, e desde 2004 pode ser visitada em tours guiadas.
Entramos por um dos dois cantos da torre que permaneceram em pé, colocamos capacetes de proteção, e seguimos os guias através dos corredores de concreto, até chegar em uma sala bem no meio da estrutura, onde se vê o teto completamente retorcido e desabado, com as vigas de aço expostas, e o chão ali é uma montanha de ruínas. Fomos avisados para cuidar onde pisamos pois a queda é de mais de 20 metros. Também há uma lista de sapatos proibidos de serem usados na tour, nada de havaianas ou salto alto por exemplo.
Durante os meses de inverno não há tours, em consideração aos morcegos que hibernam ali. A associação inclusive instalou simpáticas “acomodações” para eles em algumas salas da torre – tijolos com furos que se transformam em tocas. Mesmo durante o verão, a temperatura dentro da estrutura de concreto é de apenas 10 graus Celsius, e a única fonte de luz são os holofotes instalados pela associação, além de algumas pequenas frestas em algumas das salas, por onde entram os morcegos.
Nosso guia sabia de cor vários números e fatos sobre a torre, como qual a bitola dos canhões anti-aéreos e quantos aviões foram derrubados por eles (menos do que eu imaginei, eles calculam de 20 a 70 no total de aviões derrubados pelas três torres, que demoraram quase dois anos para serem construídas). Após a guerra, se a Alemanha ganhasse, a idéia era transformá-las em teatros e restaurantes. Com a vitória dos aliados, elas foram dinamitadas e transformadas em montanhas artificiais que agora fazem parte de parques em três cantos da cidade. Sobrou apenas a fachada norte da torre norte, que quem olha do trem ainda enxerga. Quem chega pelo parque ao sul encontra um jardim de rosas.
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