Já tinha visitado a Chapada Diamantina umas 7 vezes mas nunca fiz a trilha do Vale do Pati, desta vez, resolvi encarar. Iria com uma amiga que não pode fazer a trilha por motivos de trabalho, portanto, parti sozinha com o guia. Nosso plano era entrar pelo Guiné, ir no Morro do Castelo no segundo dia e terceiro dia sair pelo Vale do Capão.
Eu estava um pouco apreensiva pois, ultimamente, meu joelho direito andava doendo, mas nada muito forte. Então, conversei com o guia André (Chapada Soul) para irmos num ritmo lento. Como eu era a única pessoa do grupo, o ritmo seria o meu mesmo. Perfeito.
Subimos uma trilha um pouco íngreme até uma planície onde caminhamos em direção ao mirante. No caminho, cruzamos um pequeno rio que estava meio seco, não nos motivou tomar um banho. Depois, chegamos no famoso Mirante do Vale do Pati, lugar incrível, rodeado de vales e montanhas. Lá ficamos umas duas horas apreciando a paisagem, comendo, tomando café – sim, meu guia fez café fresquinho na trilha – momento relax. Como eu estava sozinha, era tudo mais tranquilo, vi grandes grupos passarem. Chegavam, ficavam uns minutos e partiam.
A descida do mirante foi bem íngreme e depois percorremos a trilha que vimos do alto. Uma linha rasgando a montanha. Paisagem incrivelmente linda. Já na última pequena subida, paramos para descansar um pouco e ver a paisagem de outro ângulo. Aos poucos iam chegando cansados o pessoal de outro grupo.
Na chegada da casa de Sr. Wilson e Dona Maria, um segundo depois que vi o guia (que ia na frente) entrar na casa, me distrai olhando, torci o pé e cai. Era uma ladeira argilosa. A dor foi fortíssima, não conseguia levantar nem colocar o pé no chão. Tive que ser ajudada para chegar na casa. Gelo, pé pro alto, atadura. Tinha esperanças de acordar melhor no dia seguinte.
O segundo dia foi todo na cama lendo um livro sobre a Chapada que o guia Rodrigo Valle Cezar e sua esposa Vanessa Salms escreveram. O tempo demorou para passar e a dor no tornolozelo seguia. Estava tensa pois no dia seguinte precisaria sair de lá caminhando. A única outra opção era mula, mas teria que reservar o dia anterior. Resolvi arriscar e ver se não estaria melhor para caminhar no dia seguinte. A ideia de sair de mula no sobe e desce da trilha e grande como sou, me assustava também.
No terceiro dia, depois do café da manhã, resolvi criar forças e tentar colocar o pé no sapato para sair de lá. A dor foi das maiores de minha vida, o pé estava cada vez mais inchado e ficando roxo, não entrava no tênis. Foram duas tentativas horríveis para conseguir. Sai lentamente subindo a primeira colina, além da dor horrível no pé, a dor na barriga do medo de não conseguir. Combinei com o guia que não sairíamos pela ladeira do mirante, não era capaz de subir aquilo com o pé mal. Optamos por sair pelo Aleixo. Depois da primeira subida a trilha ficou melhor, meio plana. Logo uma nova subida até chegar ao Rio Preto. Dali, seguimos pelos Gerais do Rio Preto até o local da saída. O guia não conhecia essa parte da trilha, seguimos por um caminho para ver se era, mas não era, voltamos… A perna doendo, comecei a ficar nervosa com essa insegurança de não achar a saída. Depois de um tempo caminhando no plano, chegamos numa penhasco enorme com uma descida íngreme. Tremi, apavorei, deu vontade de chorar. Me segurei, respirei fundo, achei que não iria conseguir. O guia disse que não tinha outra saída, que ele não sabia que era íngreme assim. Que desespero. Fiquei tão mal que boa parte da descida fiz me arrastando no chão, a perna esquerda no ar e sentada fazia forças nos braços e perna direita. Me cortei toda nas mãos das plantas que machucavam, André ficou preocupado com minhas mãos. Nem sentia nada, o que doía era a perna. Depois de um bom tempo, chegamos novamente no plano, de lá mais uma caminhada com os bastões até chegar onde o carro nos esperava. Como celular nenhum pega no Vale do Pati, a agência nos monitorava pelo spot para ver onde estávamos saindo e ir nos buscar.
Foram 9.15 km de trilha num período de 8h. Nunca andei tão devagar na minha vida. No carro, a volta foi um alívio, como era bom saber que eu tinha conseguido sair de lá. As cores do céu no final da tarde, me traziam paz. Cheguei em Lençóis de noite e peguei o ônibus para Salvador. As 5h da manhã, Marcelo me esperava na rodoviária para me levar para o COT (Hospital Ortopédico). Lá fiquei sabendo que tinha fraturado a fíbula e teria 3 meses imobilizada para tentar recuperar sem cirurgia. Neste momento desabei e comecei a chorar. Estava trancando o choro fazia 3 dias para aguentar a dor e ter forças de sair do Pati. Lembro que na caminhada de volta, o guia me disse: “não sei se você é louca ou forte”, mas está conseguindo andar. Expliquei que não era louca, que era forte, que tinha feito 11 anos de ballet e aprendi a lidar com a dor, mesmo com os pés sangrando, a gente dança com cara alegre. Durante um bom tempo da caminhada, tinha na cabeça esse vídeo abaixo. Me fazia forte para seguir caminhando.
Uma pena, mas foi assim terminou minha aventura. Meus meses seguintes foram com a perna para cima e parada fisicamente – um aprendizado de paciência. No futuro, terei que voltar por lá para completar a trilha que abandonei na metade.
PS: outro vídeo interessante sobre ballet e dor
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